Uma pesquisa cearense conseguiu produzir, em laboratório, energia elétrica a partir da matéria orgânica do esgoto em quantidade suficiente para carregar aparelhos celulares e até um sistema de tratamento dos resíduos sanitários.

Os resultados são de um estudo internacional realizado pela professora Fernanda Lobo, do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Universidade Federal do Ceará (UFC). Na pesquisa, o esgoto surge como alternativa sustentável de produção de eletricidade. Fernanda conseguiu produzir hidrogênio, gás ambientalmente sustentável, para a geração de eletricidade.

“A pesquisa se iniciou nos Estados Unidos, na Universidade do Colorado, e os primeiros testes foram feitos por mim e uma equipe do grupo de pesquisa em bioenergia”, conta a professora.
Um cubo de acrílico, com dois eletrodos, é utilizado para transformar a energia química em energia elétrica e funciona de forma similar a uma pilha, com lado positivo e negativo. Os resultados foram publicados na revista científica Energy & Environmental Science.
Fernanda explica que a tecnologia utilizada foi otimizada até não ter necessidade de outras fontes de energia para a produção do hidrogênio. “Essa foi a primeira vez que a gente conseguiu produzir hidrogênio sem nenhuma energia externa, utilizando apenas energia química da matéria do esgoto”, destaca. Além dos benefícios ambientais, a pesquisadora avalia que a tecnologia têm impactos positivos na qualidade de vida da população e que pode ser utilizada para gerar lucro.

"Uma prática muito comum, no Brasil, é o despejo de esgoto bruto nos nossos corpos hídricos. O saneamento básico ainda é muito precário, principalmente, nas regiões Norte e Nordeste. Então associar o tratamento de esgoto com a geração de um produto com valor comercial coloca o saneamento em evidência pela possibilidade de geração de renda"

Até o momento, todos os testes foram realizados em universidades norte americanas e, agora, a pesquisa deve continuar em solo cearense. Agora, o objetivo é aplicar a tecnologia em escala comercial.

“Tem um longo caminho para (a pesquisa) sair da escala de laboratório e chegar em larga escala, mas eu acredito que os novos testes que vão iniciar no ano que vem vão ajudar muito. A gente precisa sempre de apoio, de recurso, para continuar com a pesquisa e contribuir com a sociedade”, conclui.