Na última semana, o sócio diretor da Tabocas, Flávio Resende, concedeu entrevista à Revista Brasil Energia e falou sobre os custos adicionais trazidos pela pandemia e as precauções para não haver falta ou atrasos na aquisição de bens de capital, como aço e cimento que sofreram reajustes no período.
Segundo Flávio Resende, a empresa tem buscado antecipar pedidos para ter mais estoque, ela também mantém uma política de garantia de um caixa mínimo de capital de giro e um trabalho de diálogo com os clientes para renegociar custos adicionais.
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Boas expectativas para os fabricantes de bens de capital Mercado livre, fontes renováveis, digitalização, leilões e exportações trazem ânimo ao mercado, mas empresas precisam repensar as finanças
Por Roberto Rockmann
Fabricantes de bens de capital sob encomenda preveem um ano, no mínimo, similar ao de 2020, o que é positivo, porque a pandemia acelerou a tendência de descarbonização e de digitalização e não alterou o crescimento da geração de fontes renováveis, impulsionado pela expansão do mercado livre. Por outro lado, o aumento de custos de insumos trouxe a necessidade de reforço na ginástica nanceira.
Responsável pela área de marketing e vendas da Hitachi ABB Power Grids, Glauco Freitas prevê que a empresa repita o resultado de 2020, com boas perspectivas no mercado interno e no externo, o que tem propiciado estudos de análise de investimentos para aumentar a produção em uma de suas fábricas, em Guarulhos (SP). A medida pode reduzir prazos e aumentar a eciência para os clientes. “O ano passado foi atípico, com a suspensão de leilões, mas houve investimentos de distribuidoras para reduzir perdas, projetos de smart grid saindo e muitos projetos de fontes renováveis nos quais nossa presença é relevante”, arma.
As exportações de transformadores de potência para a América do Norte e para o Oriente Médio, por exemplo, também tiveram desempenho recorde em produção e entrega. “Se não houver mudança de política nos Estados Unidos e o dólar não nos afetar, estamos preparados para continuar exportando em um ritmo bom”, destaca Freitas. Hoje, as vendas para o mercado externo respondem por aproximadamente 30% a 40% da receita da empresa. Há ainda otimismo com os leilões de contratação de energia A-4 e A-5, que poderão gerar negócios ainda este ano.
Apostas
Uma das apostas da Siemens é um novo modelo de inversor que está chegando ao mercado brasileiro nesse início de ano e tem como foco o mercado de energia solar. O equipamento, oriundo da aquisição internacional da Kaco, uma das precursoras no mercado fotovoltaico, traria mais eciência e redução de custo.
A ideia é vender o sistema em parques solares e em geração distribuída, dois segmentos que deverão ter um crescimento forte nos próximos anos, diz Sergio de Oliveira Jacobsen, CEO da área de Smart Infrastructure da Siemens. Para aumentar sua posição no segmento solar, a empresa adquiriu, ano passado, 49% da Brasol, que oferece aos clientes energia fotovoltaica como um serviço e ca responsável pela aquisição, instalação e gerenciamento do sistema dos painéis solares. Dessa forma, o cliente não precisa investir na compra ou operação. O serviço é destinado a grandes consumidores de energia. “Muitas empresas, principalmente indústrias e comércio, têm nos procurado com a intenção de investir no segmento, principalmente com a agenda de sustentabilidade”, destaca.
Já a Tabocas, fundada em 1999 em Belo Horizonte (MG), trabalha no segmento de transmissão e já instalou mais de 13 mil quilômetros de linhas. Ano passado a empresa bateu um recorde: dobrou seu faturamento para R$ 1,1 bilhão e aumentou seu número de funcionários, em razão de pedidos obtidos em leilões de transmissão antigos. Atualmente a Tabocas trabalha em linhas da Engie, no Paraná e no Tocantins, e da Neoenergia, nas regiões Nordeste e Sul do país. Para 2021, a ideia é manter a receita no mesmo montante de 2020. A carteira de projetos vai até 2024. “Já estamos conversando com empresas que ganharam o leilão de dezembro de 2020 e esperamos ter boas novidades no primeiro semestre de 2021”, arma o sócio diretor, Flavio Resende.
Mas a pandemia trouxe custos adicionais. A Tabocas emprega 10 mil pessoas com obras nas cinco regiões do país. “São 50 protocolos diferentes de municípios, com testes feitos diariamente na massa”, diz. Houve ainda reajustes de 30% nos preços do aço, e de 15% nos do cimento.
A empresa tem buscado antecipar pedidos para ter mais estoque e mantém uma política de manter um caixa mínimo de capital de giro. O nível, não informado pelo executivo, estaria adequado à receita. Em paralelo, há um trabalho de diálogo com os clientes para renegociar custos adicionais. “Em alguns contratos, o reajuste é com IPCA, enquanto que parte dos custos tem subido muito mais, por isso estamos renegociando caso a caso, buscando um equilíbrio. Muitos dos concessionários também tiveram custos adicionais e negociam com a agência regulatória”, aponta Resende. A Tabocas também observa a discussão sobre o planejamento no Amapá, que sofreu com 22 dias de interrupção no fornecimento em novembro passado. “Poderá ter uma nova linha de reforço e podemos participar, temos feito muitas obras na região Norte”.
Expansão
A expansão do mercado livre e o mercado externo têm estimulado os fornecedores de equipamentos para energia eólica. Estreante no mercado de capitais, ao vender ações ano passado em uma abertura de capital (IPO, sigla em inglês), a Aeris está negociando com a Siemens Gamesa o fornecimento de pás eólicas, num total inicialmente previsto de 3,3 GW, válido até 2024 e com valor estimado de R$ 2,5 bilhões. Conrmada a transação, ela se alinha à estratégia de expansão dos negócios e pulverização da carteira de clientes. No m do ano passado, a empresa adquiriu as instalações da Wobben Windpower, indústria do segmento que produzia aerogeradores no Ceará, a sete quilômetros da sede da Aeris.
“A fonte eólica é uma das mais baratas do mundo e possui uma cadeia de suprimento muito sólida. A eólica, dentro da matriz, dará um salto muito grande nos próximos anos”, armou o presidente da empresa, Alexandre Negrão, em recente conferência com analistas. O mercado externo também é atraente no curto e longo prazo, já que a frota de aerogeradores no mundo está cando velha. Nos Estados Unidos, há equipamentos com mais de dez anos. “Está havendo esse movimento de troca para aerogeradores mais potentes em lugares que têm melhores condições de vento. Isso já é uma tendência nos Estados Unidos e está virando uma tendência na Europa, acreditamos que também será uma tendência no Brasil”, declarou.
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Foto: Divulgação