O consumo de energia, importante sinal da atividade econômica, já retomou níveis próximos aos verificados antes da pandemia no Brasil, em recuperação mais rápida que em outros países duramente atingidos pelo coronavírus, mostraram dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) no último dia 10.

Em agosto, a demanda por eletricidade no maior país da América Latina recuou apenas 0,3% se comparada ao mesmo período de 2019, com o melhor desempenho atribuído principalmente ao gradual relaxamento de medidas de isolamento decretadas por prefeituras e governos para conter a disseminação da doença.

Em alguns países europeus que optaram por medidas ainda mais rigorosas de quarentena, os chamados “lockdowns”, a retração do consumo de energia em base anual variou de 1% a 3% no mês passado, segundo números compilados pela CCEE.

Na Itália, primeiro país onde o vírus chegou com força após a China, em fevereiro, o uso de eletricidade em agosto seguia 3% inferior aos níveis do ano passado.

Na Espanha e no Reino Unido, que também foram bastante afetados pela doença, a retração na comparação anual em agosto foi de 2%, enquanto na França o consumo segue 1% atrás do nível de 2019, de acordo com a CCEE.

Apesar dos números mais favoráveis no setor elétrico, o Brasil segue sob impactos ainda bem mais fortes da pandemia que os europeus. O país registrava até quarta-feira 4,19 milhões de infecções confirmadas do novo coronavírus, atrás apenas dos Estados Unidos e da Índia, com 128,5 mil mortos.

Os casos fatais de Covid-19 no Brasil somaram 1.075 registros na quarta-feira, dia em que a França registrou 30 óbitos. A Itália teve 14 vítimas fatais no mesmo dia, contra oito no Reino Unido, enquanto a Espanha registrou 246 mortes em 7 dias.

Sinais de melhora

O presidente do conselho da CCEE, Rui Altieri, destacou que os dados sobre o consumo de energia não descontam outros fatores que podem afetar a demanda, como temperatura, mas disse que o desempenho no Brasil tem dado demonstrações claras de retomada.

“O que nós temos é sinalização desde julho de normalização. Alguns setores, como serviços, transportes e comércio ainda estão com retração, mas menor que no auge da pandemia, então há uma recuperação. Todos segmentos têm demonstrado recuperação”, disse ele, em coletiva de imprensa online.

“Nossa expectativa é que a partir de setembro, outubro, todos setores fiquem no mesmo patamar ou acima do ano passado”, acrescentou ele, ao destacar que temperaturas mais elevadas neste ano também devem influenciar em maior uso de energia.

O consumo de eletricidade no Brasil chegou a desabar 12% em abril, primeiro mês inteiramente sob efeito das quarentenas contra o coronavírus.

Desde então, houve melhora gradual, com volta a níveis bem próximos dos vistos em 2019 em julho e agosto, segundo dados prévios da CCEE.

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), responsável por gerenciar o acionamento de usinas de geração e o uso de linhas de transmissão para atendimento à demanda, projetou que a carga de energia deve avançar 0,5% em setembro na comparação ano a ano.

Apesar da recuperação mais recente, a forte retração no consumo e o aumento na inadimplência em meio à crise do coronavírus levaram distribuidoras de energia no Brasil a pedirem apoio ao governo, com a alegação de problemas de liquidez que poderiam gerar risco de descumprimento de compromissos no mercado.

Para apoiar o setor, os ministérios de Minas e Energia e da Economia viabilizaram um empréstimo de cerca de 15 bilhões às elétricas junto a um grupo de bancos liderado pelo BNDES. A transação será quitada cinco anos, com possibilidade de repasse dos custos de amortização às tarifas dos consumidores.

O governo ainda publicou neste mês medida provisória que busca conter aumentos esperados nas contas de luz principalmente das regiões Norte e Nordeste, visando evitar impactos tarifários significativos para os consumidores durante a pandemia. A MP 998 autoriza uso de recursos de fundos setoriais de pesquisa e eficiência energética para aliviar tarifas.